sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Palavras e imagens no reino da adaptação

Do experimental ao narrativo, da poesia à prosa, da literatura ao cinema - com essa proposta, o Cineadapt: Cineclube de Cinema Adaptado realiza a sua sessão inaugural, no dia 12 de março, às 20hs, no Espaço Telezoom. Queremos oferecer uma visão inicial da relação entre cinema e literatura, instigando os espectadores a refletir sobre o que impulsiona a adaptação de uma obra literária. Para isso, escolhemos cinco curtas-metragens (com estéticas bem diferentes), que nos ajudam a pensar nas várias maneiras do cinema se apropriar da literatura, seja adaptando a trama, as cenas e os personagens de uma história literária, seja buscando o espírito de uma obra para, a partir dele, construir um filme novo. Com isso, esperamos estimular o público a ver os filmes e ler os livros, a fim de potencializar o olhar para o que é específico da literatura e do cinema, e para o que é comum a ambos.
Motivado então pelo desejo de pensar comparativamente o cinema e a literatura, o Cineadapt vai exibir filmes que trazem em si essa tensão entre a palavra e a imagem - como está clara na vídeo-arte Cinco poemas concretos (2007, dir. Christian Caselli), que se apropria de textos clássicos da poesia concreta, num jogo bastante criativo de som e movimento. Ainda no universo da poesia, temos Olhos pasmados (2000, dir. Jurandir Muller e Kiko Goifman), um documentário estilizado a partir de versos do poeta francês Arthur Rimbaud (que, segundo Vinícius de Morais, era o maior de todos). E com uma linguagem mais experimental, que mescla a intimidade do vídeo caseiro e a espontaneidade da poesia, o curta Meu nome é Paulo Leminski (2004, dir. Cezar Migliorin) mostra como os versos do poeta paranaense podem soar na voz de uma criança.
Para o lado da prosa, recorremos a dois dos mais importantes escritores em língua portuguesa, que aparecem em adaptações muito criativas de seus textos: Machado de Assis, o grande mestre de nossa literatura, surge em Um homem sério (1996, dir. Dainara Toffli e Diego Godoy), adaptação do conto "Um homem célebre". Um dos autores mais adaptados de nosso cinema (há filmes de suas obras no Cinema Novo, no Cinema Marginal, nos anos da Embrafilme e na Retomada), Machado de Assis possui tramas envolventes, personagens marcantes e histórias muito bem contadas, que permanecem vivas no texto e, por isso, são fontes riquíssimas para as telas. Além de Machado, teremos Clarice Lispector, no curta Macabéia (2000, dir. Erly Vieira Jr., Lizandro Nunes e Virgínia Jorge), a partir do romance "A hora da estrela". Embora já tenha sido adaptado para as telonas (no filme homânimo de Suzana Amaral, de 1985), o romance de Clarice permanece uma obra muita intensa, com seu narrador enigmático e sua protagonista ingênua e esperançosa - o que torna o texto sempre estimulante para outras e outras adaptações.
Com esse cardápio de filmes especialmente escolhido para a primeira sessão, o Cineadapt espera proporcionar uma ótima exibição, com um bate-papo agradável e produtivo para todos os interessados e que, no mês seguinte, possamos novamente assistir bons filmes, adaptados de bons livros e com o desejo de vivenciar o cinema e a literatura, um pelo outro, indefinidamente.

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